
Por que alguém fingiria estar doente, mesmo sem ter nenhum problema físico real? Embora possa parecer difícil de entender, esse comportamento tem nome e é reconhecido pela psiquiatria: trata-se do transtorno factício, anteriormente conhecido como Síndrome de Münchausen.
Pessoas com esse transtorno sentem uma necessidade intensa de ocupar o papel de paciente. Para isso, podem inventar sintomas, exagerá-los ou até provocar lesões em si mesmas, com o objetivo de obter atenção médica, cuidados ou empatia.
É importante destacar: isso não acontece por maldade, nem deve ser reduzido à ideia de “querer chamar atenção”. Trata-se de um sofrimento psíquico real, frequentemente associado a históricos de trauma, abandono emocional ou experiências precoces de doença.
O transtorno factício pode gerar consequências graves: além de intervenções médicas desnecessárias, muitas vezes invasivas, a pessoa pode se isolar, vivenciar episódios de angústia intensa e apresentar quadros associados, como depressão, ansiedade ou transtornos de personalidade. O diagnóstico costuma ser difícil e demorado, o que perpetua o ciclo de sofrimento.
O tratamento exige escuta, vínculo terapêutico e manejo cuidadoso, geralmente com acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico. Em alguns casos, o uso de medicação pode ser necessário para tratar sintomas associados, como depressão ou ansiedade severa.
Falar sobre esse transtorno é essencial. O transtorno factício existe e precisa ser tratado com empatia e responsabilidade clínica — não com julgamento.
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Fontes:
• American Psychiatric Association. (2022). DSM-5-TR: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – Texto Revisado.
• Yates, G. P., & Feldman, M. D. (2016). Factitious Disorder: A Systematic Review of 455 Cases in the Professional Literature. General Hospital Psychiatry, 41, 20–28.
• Bass, C., & Halligan, P. (2014). Factitious disorders and malingering: Challenges for clinical assessment and diagnosis. The Lancet, 383(9926), 1422–1432.