
As bonecas hiper-realistas conhecidas como “bebês reborn” têm ganhado cada vez mais visibilidade dentro e fora das redes sociais. Para algumas pessoas, são objetos de entretenimento ou itens de coleção. Para outras, despertam estranhamento ou desconforto.
Antes mesmo da popularização, esses bonecos já eram utilizados em contextos clínicos, como em serviços de saúde mental e grupos de apoio ao luto perinatal, funcionando como ferramentas terapêuticas. Estudos de caso sugerem que, em algumas situações, eles podem ajudar no manejo do luto, facilitando o vínculo simbólico com a perda e promovendo conforto emocional (Kenney & Fite, 2010; Davies, 2017).
Em casos de demência, bonecas realistas também têm sido usadas como recurso não farmacológico, ajudando a reduzir agitação e promover sensação de bem-estar emocional em pessoas idosas (Mitchell & O’Donnell, 2013).
Por si só, o uso dessas bonecas para fins recreativos ou colecionáveis não representa risco à saúde mental. No entanto, o apego excessivo pode, sim, ser um sinal de alerta. Quando o vínculo com o bebê reborn substitui interações sociais significativas ou ocupa o lugar de conexões afetivas reais, é importante investigar se há sofrimento psíquico subjacente.
Esse comportamento pode estar associado a transtornos dissociativos, luto complicado, depressão grave ou até sintomas psicóticos — embora esses casos sejam raros e sempre dependam de avaliação clínica individualizada (APA, DSM-5-TR, 2022).
Como em tantas outras situações, o mais importante é olhar para o contexto e para a função que o objeto assume na vida da pessoa. O que pode ser terapêutico para uns, pode indicar sofrimento para outros.
Fontes:
• Kenney, N., & Fite, K. (2010). Therapeutic play with reborn dolls: Clinical experiences. Journal of Creativity in Mental Health, 5(1), 65–76.
• Davies, B. (2017). Reborn dolls and grief therapy: A qualitative case review. Bereavement Care, 36(2), 61–64.
• Mitchell, G., & O’Donnell, H. (2013). The therapeutic use of dolls for people with dementia: A critical review of the literature. Dementia, 12(6), 713–728.
• American Psychiatric Association. (2022). DSM-5-TR: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – Texto Revisado.