
Nas últimas décadas, tem crescido o número de diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) em vários países. Mas isso não significa, necessariamente, que o número de pessoas autistas esteja aumentando. O que mudou foi a forma como o autismo é compreendido, identificado e diagnosticado.
Hoje sabemos que o espectro é amplo: ele abrange desde pessoas com altas necessidades de apoio até aquelas que levam uma vida independente, mas apresentam dificuldades de interação social, comunicação sutil ou padrões repetitivos de comportamento.
Antigamente, o diagnóstico era mais restrito e frequentemente voltado a casos graves, geralmente em meninos, com sinais evidentes desde a infância. Mas hoje há maior reconhecimento de que meninas, mulheres e pessoas com inteligência média ou alta podem mascarar os sintomas — o chamado camuflagem social — e, por isso, passam despercebidas por muitos anos.
Outro fator relevante é o aumento da conscientização. Mais pessoas têm acesso a informações sobre o espectro, identificam traços em si mesmas ou em familiares e buscam avaliação profissional.
Do ponto de vista científico, ainda se estudam possíveis fatores ambientais associados ao autismo, como idade avançada dos pais, prematuridade ou complicações perinatais. No entanto, o componente genético continua sendo o principal determinante, e os fatores ambientais parecem ter impacto limitado.
Ou seja: o que vemos hoje não é um aumento real na prevalência do autismo, mas sim uma mudança cultural e diagnóstica. Ampliaram-se os critérios, melhorou o acesso à saúde e começamos a enxergar com mais sensibilidade e precisão as diferentes formas de ser autista.
Referências:
1. Lord C, Charman T, Havdahl A, et al. The Lancet Commission on the future of care and clinical research in autism. Lancet. 2022;399(10321):271-334. doi:10.1016/S0140-6736(21)01541-5
2. Zeidan J, Fombonne E, Scorah J, et al. Global prevalence of autism: A systematic review update. Autism Res. 2022;15(5):778-790. doi:10.1002/aur.2696