
É possível que duas ou mais pessoas compartilhem os mesmos delírios? Sim. Isso pode acontecer em casos de transtorno psicótico compartilhado (folie à deux), um fenômeno raro em que uma pessoa com delírios persistentes influencia outra — geralmente alguém com forte vínculo afetivo ou de dependência — a adotar as mesmas crenças delirantes.
Esse tipo de transtorno costuma ocorrer entre familiares, casais ou membros de grupos fechados, em contextos marcados por isolamento social e rigidez nas relações. As pessoas envolvidas tendem a se afastar do convívio externo, a desconfiar de todos ao redor e a perder a capacidade de perceber que estão vendo o mundo de forma distorcida.
Há também os chamados episódios psicogênicos coletivos, que podem ser confundidos com o transtorno psicótico compartilhado. Nesses casos, os sintomas não têm base orgânica, mas se espalham por sugestão ou medo em contextos grupais. Esses quadros costumam ser classificados em dois tipos:
• Agudos, quando surgem repentinamente em resposta a uma situação estressante ou ameaçadora, como pânico coletivo;
• Crônicos, quando se desenvolvem e persistem por mais tempo, exigindo investigação mais profunda e criteriosa.
O tratamento envolve avaliação psiquiátrica cuidadosa, apoio psicossocial e, em muitos casos, a separação temporária entre os envolvidos para interromper a retroalimentação dos delírios. Com intervenção adequada, é possível restabelecer a saúde mental e os vínculos com a realidade.
Referências:
1. American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5-TR). 2022.
2. Arnone D, Patel A, Tan GM. The nosological significance of Folie à Deux: a review of the literature. Ann Gen Psychiatry. 2006;5:11. doi:10.1186/1744-859X-5-11