
Sim — embora o termo “depressão de alto funcionamento” não exista oficialmente nos manuais diagnósticos, ele descreve bem uma realidade clínica: a de pessoas que enfrentam sintomas depressivos persistentes, mas conseguem manter uma aparência de normalidade e produtividade.
Esses indivíduos continuam trabalhando, interagindo socialmente e cumprindo compromissos, mas cada tarefa exige um esforço interno imenso. A depressão não “paralisa” essas pessoas, mas as esgota silenciosamente.
Como indivíduos com distimia (hoje chamada de transtorno depressivo persistente) seguem suas rotinas enquanto convivem com profundo sofrimento psíquico? Adler e colaboradores, em estudo publicado em 2015, avaliaram a resposta a uma intervenção que combinava psicoterapia e suporte no ambiente de trabalho, com resultados expressivos na redução de faltas e melhora da produtividade.
Embora distimia e “depressão de alto funcionamento” não sejam sinônimos, os sintomas podem se sobrepor: cansaço constante; irritabilidade; dificuldade de concentração; baixa autoestima; falta de prazer nas atividades; dificuldade de se conectar emocionalmente com os outros. Muitas dessas pessoas nem percebem que estão deprimidas, já que não se encaixam no estereótipo da pessoa “incapacitada” pela doença.
Essa forma de depressão pode passar despercebida tanto por quem sofre quanto por familiares e colegas. O acompanhamento psicológico é fundamental, mesmo quando a vida “segue normalmente”. Rendimento não é sinônimo de bem-estar.
Cuidar do sofrimento invisível é uma forma de prevenção.
Fonte:
Adler et al. Improving work outcomes of dysthymia (persistent depressive disorder) in an employed population. https://doi.org/10.1016/j.genhosppsych.2015.04.001